CIDADE DE CAMPINAS SE DESTACA NA REDE DE SAÚDE MENTAL EM 2021
Guia divulgado pela OMS aponta município como modelo de boas práticas
No ano de 2021, a cidade de Campinas foi apontada pela Organização Mundial da Saúde como um modelo no tratamento da saúde mental. A informação foi divulgada por meio do “Guidance on community mental health services: Promoting person-centred and right-based approaches”. Baseado nos direitos humanos, o documento traz informações sobre serviços de saúde mental de todo o mundo, analisados pela Organização.
De acordo com o Dr. Ren Minghui, Diretor Geral Adjunto da OMS, em Cobertura Universal de Saúde e Doenças e Não Transmissíveis, “O objetivo de providenciar melhores serviços para pessoas com condições de saúde mental requer mudanças na forma como esses serviços concebem e promovem cuidado”. Sendo assim, para ele, o Guia busca encorajar o investimento em serviços que tenham, dentro de suas propostas, o alinhamento aos padrões estabelecidos pelos Direitos Humanos.
No quarto capítulo do documento, o Brasil como um todo é destacado pela OMS devido à sua implementação em larga escala de serviços de saúde mental baseados na comunidade, que são ancorados tanto nos princípios de recuperação, quanto nos direitos humanos. Esses serviços são fruto da reforma psiquiátrica que teve início na década de 70 e que, ao longo do tempo, desprenderam-se dos hospitais psiquiátricos e deram espaço para iniciativas comunitárias. E, assim, nesse contexto, Campinas se enquadra como um modelo para a OMS.
No município, não existem mais hospitais psiquiátricos; o tratamento de pessoas com transtornos mentais ou dependência química é realizado por serviços que prezam pela inclusão social, a inserção destes indivíduos no mercado de trabalho através de oficinas artesanais, pronto atendimento e acessibilidade para aqueles em situação de vulnerabilidade social. Dentre estas iniciativas, estão os Centros de Convivência, os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), NOT (Núcleo de Oficina de Trabalho), Consultório na Rua e os leitos de saúde mental em hospitais gerais.
Ainda no documento, foram apontados estudos os quais defendem os tratamentos focados no senso de comunidade e inserção social, demonstrando seus pontos positivos em relação aos tradicionais tratamentos em hospitais psiquiátricos. No caso dos CAPS, por exemplo, 95% dos usuários entrevistados afirmaram não ter tido graves hospitalizações psiquiátricas após iniciarem o tratamento pelos Centros de Atenção Psicossocial, e 73% afirmaram procurar os centros durante momentos de crise.
As iniciativas prestadas pela cidade de Campinas na área da saúde mental são oferecidas pela prefeitura e o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, com parcerias com o SUS (Sistema Único de Saúde).
O Cândido Ferreira foi uma das instituições pioneiras a aderir à reforma psiquiátrica no país, assim como afirma Sandrina Indiani, Presidente do Conselho Diretor do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira. “O reconhecimento da OMS muito nos orgulha. O Cândido Ferreira está sempre alinhado com as boas práticas em saúde mental, pois desde sua fundação garante o acesso ao tratamento e, a partir dos anos 90, o direito a um cuidado mais humanizado”, conta.
A instituição, então, passou a investir em procedimentos focados na comunidade e na inserção dos pacientes na sociedade. “O Cândido Ferreira tem tratamento de base comunitária e investe na reabilitação psicossocial das pessoas, sendo referência na luta antimanicomial”, reforça Sandrina.
Os Serviços
Para compreender melhor como as iniciativas de saúde mental da cidade de Campinas operam, confira abaixo o modelo de atendimento prestado:
Os CAPS – Centros de Atenção Psicossocial são pontos de atendimento a indivíduos que sofrem de transtornos mentais ou dependência química. Nos centros, são atendidos pacientes em situação de crises ou que estejam em processo de reabilitação social. Os CAPS são uma alternativa ao tratamento no modelo asilar, substituído pelos novos métodos comunitários após a reforma psiquiátrica.
Os CAPS são serviços gratuitos, que fazem parte do SUS (Sistema único de Saúde), e que possuem, conforme o perfil do serviço, atendimento 24h. Cada unidade possui focos de tratamento específicos para adultos com transtornos mentais, adultos com dependências de álcool e demais drogas, e crianças e adolescentes com transtornos mentais ou que estão sujeitas ao uso e vício em álcool e drogas.
Na cidade de Campinas, operam, no total, 14 CAPS, sendo 11 deles do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira.
Além dos CAPS, o município também conta com o NOT – Núcleo de Oficinas e Trabalho, centros de convivência, consultórios nas ruas, serviços residenciais terapêuticos e leitos em hospitais gerais. O NOT, Núcleos de Oficina de Trabalho e a Casa das Oficinas, que são uma iniciativas pioneiras, que promovem a inserção social e no mercado de trabalho dos usuários desses serviços por meio do trabalho em oficinas artesanais. A atuação dos pacientes na produção artesanal garante a eles a própria geração de renda, além de capacitá-los para uma convivência em comunidade sem a excludência que tratamentos em hospitais psiquiátricos poderiam gerar nestes casos.
Os Centros de Convivência, como a Casa dos Sonhos, também foram iniciativas idealizadas pelo Cândido Ferreira. Neles, é trabalhada a convivência dos usuários em unidades intergeracionais, nas quais os indivíduos participam de exercícios recreativos, oficinas e demais atividades (como aulas de alfabetização, ensino de línguas estrangeiras, aulas de artesanato, capoeira, zumba, entre várias outras atividades) que prezam pela cultura e o lazer.
A cidade de Campinas também conta com os Serviços Residenciais Terapêuticos, que são moradias destinadas a uma parcela da população que ainda está passando pelo processo de desinstitucionalização, referente a internações passadas em hospitais psiquiátricos. Por fim, tem-se o Consultório na Rua, uma iniciativa itinerante que busca oferecer assistência à população de rua e os leitos em enfermarias de hospitais gerais para internação de curta permanência.
Todos os serviços formam uma completa rede de atendimento de saúde mental, que acolhe, cuida, trata e promove inclusão social a pessoas que não têm condições de se tratar em hospitais particulares e encontram nos CAPS da Prefeitura Municipal de Campinas e no Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, atendimento digno, humanizado e de qualidade.
Matéria redigida por Larissa Biondi, voluntária e estudante de jornalismo da PUC Campinas
